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Técnicas envolvendo terceiros

Em 1991, Merrill Rose, vice-presidente executiva da empresa de relações públicas Porter/Novelli, aconselhou empresas sobre técnicas envolvendo terceiros:

 

"Ponha suas palavras na boca de alguém... .Haverá ocasiões em que a posição que você defende, não importa quão bem enquadrada e fundamentada seja, não será aceita pelo público, simplesmente porque você é quem é. Qualquer instituição com um interesse comercial velado na solução de uma questão defronta-se com uma barreira natural de credibilidade para transpor junto a seu público, e, muitas vezes junto à mídia."1.

A indústria fumageira emprega esta tática, onde argumentos favoráveis ao tabaco são defendidos por terceiros aparentemente independentes. 

No Brasil

A indústria do tabaco no Brasil tem se associado com diversos grupos que usam o discurso da liberdade de escolha, de promoção e justiça social e concorrencial mas, na verdade querem promover seus produtos. Se envolvem em câmaras setoriais ocupando espaços dentro do governos como o Instituto ETCO, ou em parcerias com governos estaduais como o a do Instituto EKLOOS. Há ainda aquelas que se associam em grupos que utilizam do discuros para colaborar com outras empresas para gerirem seus negócios como o Instituo ETHOS.

Antecedentes

Esta é uma tática usada não só pela indústria fumageira mas também para dar credibilidade a empresas que desenvolvem atividades industriais polêmicas. Muitas empresas têm achado pouco proveitoso utilizar porta-vozes corporativos para se defenderem.

Segundo a página do Tobacco Tactics, Amanda Little, atuante na empresa de Relações Públicas Burson.Marsteller em Sidnei, Austrália, afirmou em uma conferência sobre publicidade em 1995:
"Para a mídia e para o público, a empresa será uma das fontes menos confiáveis de informação, seja sobre seu próprio produto ou sobre riscos de segurança ou ambientais. Ambas irão recorrer a outros especialistas [...] visando obter um ponto de vista objetivo. Desenvolver apoio e validação de terceiros para mensagens básicas de risco da corporação é fundamental. Este apoio deve idealmente vir de autoridades médicas, líderes políticos, representantes de sindicatos, pesquisadores respeitados, autoridades policiais e dos bombeiros, ambientalistas e representantes de órgãos reguladores".

Algumas vezes, as técnicas envolvendo terceiros são explícitas e a indústria e/ou seus grupos de fachada pagam por estas visões. Em 2011, por exemplo, o grupo Privacy International, que realiza campanhas de apoio às liberdades civis, produziu um relatório sobre fumo e privacidade, encomendado e pago pelo grupo pro-tabaco Forest (em inglês). 2.

Mais frequentemente, os laços financeiros são menos transparentes. Eles podem ser ofuscados para ocultar as ligações entre a indústria e grupos de fachada. Embora a meta seja persuadir a opinião pública de que um amplo espectro de pessoas e organizações compartilha a visão da indústria, as técnicas envolvendo terceiros não buscam, necessariamente, abalar a opinião pública ''per se'' . Esta é uma batalha que a indústria fumageira já perdeu. A meta da indústria fumageira não é ganhar uma boa campanha de relações públicas, mas sim evitar perder batalhas políticas e legais. A estratégia de sobrevivência (''survivalist'') tem funcionado para a indústria fumageira ao longo de quarenta anos.

Pesquisas em documentos internos da indústria fumageira, antes classificados como secretos, mostram que a indústria emprega técnicas envolvendo terceiros como estratégia com bastante frequência e, tal como registrado abaixo:

Desta forma, os aliados da indústria e aqueles que promovem uma agenda favorável ao tabaco devem ser examinados com maior rigor em busca de ligações possíveis com os fabricantes.

Variedade de técnicas

As técnicas envolvendo terceiros vêm em muitas formas e nem todas são camufladas. Iniciam-se com o ''lobbying'' já conhecido, estabelecem-se redes e constróem-se alianças. Quando existe um elo financeiro, é também contratada ajuda ou - quando a ligação é oculta - o uso dos 'grupos de fachada' . Um uso específico dos 'grupos de fachada' é denominado "''astroturfing'' ®".

Construindo alianças
A forma mais natural, digamos assim, de uma técnica envolvendo terceiros é a construção de alianças com aqueles envolvidos com a indústria de alguma forma. Isto engloba, por exemplo, empregados, sindicatos ou consumidores. Organizações de negócios, representando tanto a indústria ou uma coalizão mais ampla de corporações transnacionais, pode ser efetiva em grupos lobistas e  Redes transnacionais de lobbies.
Por exemplo, no Reino Unido, a organização de pequenos varejistas, a National Federation of Retail Newsagents, ficou conhecida por receber dinheiro da British American Tobacco para fazer campanha contra regulamentação planejada sobre a Publicidade nos Pontos de Venda de produtos derivados de tabaco.

Celebridades

Os arquivos da indústria fumageira contêm inúmeros documentos revelando como celebridades têm sido usadas pela indústria para:

  1. Promover "hábito de fumar e tolerância" 3;
  2. Participar de publicidade de cigarros 4;
  3. "Fumar KOOL [cigarros] em filmes" 5;
  4. Participar de eventos esportivos patrocinados pela indústria com "excelentes possibilidades televisivas" 6.

Celebridades da Forest

A organização de fachada financiada pela indústria, Forest (em inglês), tem um "Conselho de Apoiadores" formado por celebridades. Algumas destas celebridades falam publicamente contra as leis que a Forest também desqualifica, tais como a proibição de fumar ou propostas para embalagens genéricas. Algumas vezes, entretanto, sua ligação com a Forest não é mencionada, por exemplo, no seguinte caso:

O chef Antony Worrall Thompson é o patrono da Forest, que dá entrevistas, segundo a Forest, "representando-a a qualquer hora do dia, seja para a GMTV, o Channel 4 News ou o World Service. Ele também tem sido o anfitrião de eventos da Forest no The Groucho Club em Soho (do qual ele é sócio) e o The Savoy hotel em Londres". 7 No entanto, a ligação entre a Forest e o ''chef'' não é tão explícita. Por exemplo, em agosto de 2011, quando Worrall Thompson divulgou uma petição eletrônica reivindicando que o governo revisse a proibição de fumar. 8 Simon Clark, da Forest, tem admitido que ele pedira ao ''chef'' para propor outra petição. "Na quinta-feira, 4 de agosto, o governo lançou seu novo sítio com a mesma. "Como a maioria dos leitores sabe, eu não sou fã de petições em geral", ele escreveu. "No entanto, eu falei com o patrono da Forest, Antony Worrall Thompson, e ele concordou em submeter uma petição intitulada 'Salve nossos pubs e clubs _ Reveja a proibição do fumo'" 9 Se você clica no website da petição eletrônica do Governo Britânico você só vê o nome de Worrall Thompson , sem qualquer menção a Forest ou seu papel como seu patrono. Para o público desavisado, isso parece ser apenas um ''chef'' famoso assinando uma petição, não uma organização pró-fumo. 10.

Ajuda contratada

Empresas ligadas ao fumo algumas vezes contratam Institutos de Pesquisa, especialistas independentes ou outros consultores para escrever um relatório ou emitir uma opinião em favor da indústria. Por exemplo, para se opor à política de governo sobre o Display Ban (em inglês) ou sobre o Plain Packaging (versão em inglês).
Pagar por pesquisas e pelo endosso de médicos, por exemplo, como é explicado em Influenciando a Ciência pode ser incluido na categoria "Técnicas Envolvendo Terceiros" como "ajuda contratada".

'Grupos de fachada' e 'Astroturfing'

'Grupos de fachada' são organizações especificamente criadas pela indústria fumageira para agir como uma voz supostamente independente no debate sobre o fumo. Estes incluem organizações ou iniciativas agindo como entidades aparentemente autônomas. Na verdade, estes grupos possuem ligações (ocasionalmente ocultas) com as  empresas fumageiras. Algumas vezes são fundados ou financiados por terceiros como determinados Institutos de Pesquisa.
Uma forma muito específica de usar grupos de fachada é chamada de 'Astroturfing': simulando um movimento militante autêntico (''grassroot movement''). 11.

06/11/2024

A Comissão de Segurança e Saúde do Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (SindiTabaco) acaba de lançar o Plano de Auxílio Mútuo (PAM), uma iniciativa inédita de cooperação interinstitucional para responder a emergências no setor. Voltado para o fortalecimento da segurança e prevenção de riscos nas operações de alto impacto da cadeia produtiva do tabaco, o PAM é uma parceria entre o SindiTabaco, empresas associadas e o sexto Batalhão de Bombeiros Militares (BBM). O plano visa compartilhar boas práticas, recursos materiais e engajar a comunidade em ações de conscientização e segurança.

Referência

SindiTabaco lança Plano de Auxílio Mútuo com foco em prevenção de riscos no agronegócio. Gaz, Rio Grande do Sul, 4 nov. 2024. Disponível em: https://www.gaz.com.br/sinditabaco-lanca-plano-de-auxilio-mutuo-com-foco.... Acesso em: 9 dez. 2024.

 

06/11/2024

Um encontro de representantes de órgãos federais realizado nesta segunda-feira (4) em Brasília buscou detalhar ações para fechar o cerco ao comércio ilícito de produtos de tabaco no Brasil. As discussões ocorreram na sede da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) com o objetivo de avaliar a ampliação do protocolo no combate às irregularidades que causam prejuízos financeiros e à saúde no país.

Referência

FERREIRA, Luiz Claudio. Órgãos federais buscam fechar cerco a comércio ilícito de tabaco: Questão é prioridade para o governo brasileiro, diz médica. Agência Brasil, Brasília, 4 nov. 2024. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2024-11/orgaos-federais-b.... Acesso em: 2 dez. 2024.

 

06/11/2024

Cenas de carros em alta velocidade, lanchas tunadas, veículos com máquinas de fumaça acopladas no escapamento para despistar perseguidores e toneladas de produtos apreendidos. No formato série e documentário na íntegra, “Cigarro do Crime” é o principal material disponível na página do YouTube do Fórum Nacional Contra a Pirataria e Ilegalidade (FNCP).

Referência

FUHRMANN, Leonardo. Cigarro: o ecossistema do contrabando. O Joio e o Trigo, [s.l.], 9 mar. 2024. Disponível em: https://ojoioeotrigo.com.br/2023/03/cigarro-ecossistema-do-contrabando/. Acesso em: 2 dez. 2024.

 

04/11/2024

Os primeiros vendedores chegam antes de o dia clarear. É uma espécie de feira livre, mas muito diferente das feiras de alimentos: não existem barracas, os produtos não são comestíveis, os fregueses não são os consumidores finais e, via de regra, esses fregueses é que decidem o preço que vão pagar.  Estamos em uma feira de fumo em Craíbas, cidade de 25 mil habitantes no interior de Alagoas. Tanto ali como em municípios próximos, milhares de agricultores familiares têm no tabaco sua principal atividade econômica. Eles estão no entorno de Arapiraca, a segunda maior cidade do estado, que já foi conhecida como “capital do fumo”. Circulamos por Arapiraca e arredores durante três dias no início de setembro e, nas pequenas e médias propriedades por onde passamos, a paisagem era essa: milhares de pés de fumo crescidos, com varais de bambu onde as folhas já colhidas eram postas para secar. 

Referência

TORRES, Raquel; MATHIAS, Maíra. Como vivem os plantadores de fumo de rolo em Alagoas. O Joio e o Trigo, [s.l.], 18 jan. 2023. Disponível em: https://ojoioeotrigo.com.br/2023/01/como-vivem-os-plantadores-de-fumo-de.... Acesso em: 29 nov. 2024.

 

04/11/2024

Em Alagoas, crise do fumo de rolo deixou agricultores familiares em maus lençóis. Mesmo décadas depois, poder público ainda não foi capaz de promover alternativas viáveis “Desde os sete anos de idade eu plantava fumo. De uns tempos pra cá, só vivia doente, os venenos me atacavam muito. O fumo e o veneno mexem muito com a pessoa. Aí eu pensei: sabe de uma coisa? Vou parar”, conta Luiz Barbosa dos Santos, de 56 anos, na banca de feira onde hoje vende seus alimentos em Craíbas, Alagoas. 

Referência

TORRES, Raquel; MATHIAS, Maíra. Plantar comida em vez de tabaco: por que essa troca é tão difícil?. O joio e o Trigo, [s.l.], 19 jan. 2023. Disponível em: https://ojoioeotrigo.com.br/2023/01/plantar-comida-em-vez-de-tabaco-por-.... Acesso em: 29 nov. 2024.

 

04/11/2024

Raul da Silva, de 32 anos, vive em uma propriedade rural no interior de Paraíso do Sul (RS). Ali, o agricultor chegou a plantar cem mil pés de tabaco. Afinal, a cultura é predominante em toda a região central do Rio Grande do Sul e o produtor iniciou a trajetória no campo, seguindo o destino seguro que lhe foi prometido, assim como a tantos outros moradores locais. Quando pensou em diversificar por meio de produção de leite, esbarrou na seca e no baixo preço. Foi assim que ele desistiu e retornou para o tabaco, plantando, atualmente, vinte mil pés a mais do que antes. “A gente tem que ter coragem pra ficar”, diz.

Referência

WEISE, Angélica. Sofrimento para agricultores, abraços aos ‘amigos’, tabaco é problema social no Rio Grande do Sul. O joio e o Trigo, [s.l.], 29 jun. 2023. Disponível em: https://ojoioeotrigo.com.br/2023/06/sofrimento-para-agricultores-abracos.... Acesso em: 29 nov. 2024.

 

04/11/2024

Quem segue o debate sobre a regulamentação do cigarro eletrônico no Brasil já deve ter ouvido falar de Lauro Anhezini Junior, “especialista” citado em pelo menos 15 matérias e convidado de dois seminários de veículos jornalísticos pertencentes a grandes grupos de comunicação do país. Sempre, nos textos ou em eventos, ele discursa a favor da liberação dos Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEf's). Lauro não é cientista. E não prioriza argumentos embasados sobre como o cigarro eletrônico é supostamente menos prejudicial à saúde humana, se comparado ao cigarro tradicional.

Referência

REISDORf, Paula. A ex-Souza Cruz de mãos dadas com grupos de comunicação na defesa dos cigarros eletrônicos. O Joio e o Trigo, [s.l.], 8 abr. 2024. Disponível em: https://ojoioeotrigo.com.br/2024/04/ex-souza-cruz-grupos-de-comunicacao-.... Acesso em: 29 nov. 2024.

 

04/11/2024

Secretário especial da Reforma Tributária do Ministério da Fazenda do governo Lula, o economista Bernard Appy tem, neste ano, o compromisso prioritário de elaborar um projeto de legislação para a regulamentação da proposta de reforma aprovada no Congresso Nacional em 2023.  Um dos pontos mais aguardados é o imposto seletivo, que servirá para aumentar as alíquotas de produtos que são prejudiciais à saúde das pessoas e ao meio ambiente. E, neste tema, Appy andou mal acompanhado nos últimos anos.. » O Joio e O Trigo é uma instituição sem fins lucrativos e todo o nosso conteúdo é feito sob a licença Creative Commons. 

Referência

FUHRMANN, Leonardo. Corporação do tabaco financia entidade criada por secretário da Reforma Tributária. O Joio e o Trigo, [s.l.], 17 abr. 2024. Disponível em: https://ojoioeotrigo.com.br/2024/04/corporacao-tabaco-financia-entidade-.... Acesso em: 25 nov. 2024.

 

04/11/2024

O consumo de cigarros eletrônicos vem aumentando em grande velocidade entre jovens e a ciência vem alertando sobre os males causados pelo vício. Em Juara o uso desse novo “passatempo” vem aumentando de forma significativas e o problema maior é que poucos sabem, é com relação a existência de produtos com qualidade duvidosa que são vendidos por ambulantes e que contém substâncias lesivas aos pulmões.

Referência

APESAR de proibido no Brasil em Juara é notório o aumento do uso de cigarro eletrônico. Rádio Tucunaré, 1 jan. 2023. Disponível em: https://radiotucunare.com.br/apesar-de-proibido-no-brasil-em-juara-e-not.... Acesso em:. 25 nov. 2024

 

04/11/2024
Referência

TEIXEIRA, Thaise. Indicação de Giovani Feltes para a Secretaria da Agricultura surpreende: Representantes do agronegócio gaúchos esperavam confirmação de alguém ligado ao setor. Correio do Povo, Brasília, 30 dez. 2022. Disponível em: https://www.correiodopovo.com.br/not%C3%ADcias/rural/indica%C3%A7%C3%A3o.... Acesso em: 25 nov. 2024.

 

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